sábado, 30 de agosto de 2008

Moda e Sociedade

A Moda da Época

Quando a família real portuguesa chegou à Bahia, as mulheres da corte causaram o maior frisson: as roupas e os acessórios dela eram novidade para as brasileiras. A primeira moda fez logo a cabeça das mulheres: Carlota Joaquina desembarcou no Brasil de turbante. Era para esconder o cabelo cortado por causa da infestação de piolhos no navio, mas o motivo não importava; a idéia era copiar sem demora o estilo da nobreza e aproveitar os novos tecidos importados.

O Brasil era dominado por uma lei que proibia os ornamentos, os excessos e os tecidos muito caros. A tendência do verão de 1808 era a Moda Império, de origem francesa. Em museus de Paris e Lisboa encontramos vestidos de cores claras, com decotes quadrados ou em forma de coração. O corte logo abaixo do busto, e a saia com um leve franzido; a saia enorme, que precisava até de uma armação de madeira, estava ultrapassada.

A moda seguia os novos ventos da política: para os homens, estavam em alta as roupas com inspiração militar. Napoleão Bonaparte foi buscar idéias de governo na antiga Grécia, e assim as estátuas que surgiam em escavações arqueológicas eram modelo de elegância.

A mulher ficou livre do espartilho e passou a usar sapatilhas. A bolsa, que antes era escondida num buraco da saia rodada, cresceu e apareceu. A Moda Império não dispensava o luxo, principalmente nas cerimônias que reuniam as damas da corte, como batizados e casamentos. Nestas ocasiões, os vestidos usados tinham caudas bordadas com fios de metais preciosos, fios de seda e detalhes em renda.

Quando Napoleão perdeu a guerra, voltaram as saias exageradas na Europa. Mas a Moda Império, com tecidos leves, manteve sua majestade aqui no Brasil. “A Moda Império é uma moda sem armadilha: ela alonga o corpo, deixa a mulher mais confortável e faz com que ela tenha certa postura”.

As pinturas de retratos, os desenhos e as gravuras, revelam o gosto refinado da moda na época, as mulheres nobres sempre aparecem retratadas trajando vestidos com modelagem império, ou seja, cintura marcada abaixo dos seios, uma espécie de camisolão preso abaixo do busto, que imitavam os drapejados das esculturas gregas, muitas vezes rebordados com fios de metais nobres. Esses trajes eram complementados com uso de xales, turbantes, leques, luvas, chapéus. Já aos homens, as inspirações vieram do traje militar, usavam calças justas e casacas ao gosto napoleônico.

A Vida Social

A vida social da brasileira branca no início do século XIX praticamente inexistia. A maior parte do tempo, ela ficava em casa, restrita aos afazeres domésticos e ao contato com a família e eventuais escravos. Numa sociedade em que não havia imprensa, ou seja, em que as noticias não circulavam com facilidade e em que o comercio era incipiente, não havia oferta nem demanda de vida social e muito menos de moda.

De acordo com historiadores e com relatos de viajantes, as mulheres praticamente só saíam de casa para ir à missa e, muito raramente, para alguma visita. Paradoxalmente, as escravas tinham mais liberdade nesse sentido. As que trabalhavam como domesticas saíam às ruas rotineiramente para fazer compras. Algumas trabalhavam nas ruas, vendendo quitutes e outras mercadorias.

De certa forma, elas faziam a ponte entre dois mundos, uma forma de comunicação. Existia para elas essa socialização, essa troca de experiências e de conversa. Era um espaço de convivência ao qual a mulher branca não tinha acesso.

O que marca a vida da mulher do período colonial é a reclusão. Não havia sociabilidade nas ruas, as mulheres brancas não circulavam. Essa vida tão restrita, sem oportunidades de exibição, também gerava certo descuido com os padrões das vestimentas.

Ainda que não de forma repentina ou radical, a chegada da corte alterou essa realidade. Primeiro a partir das próprias medidas políticas tomadas, como a abertura dos portos – que permitiu o comercio até então bastante restrito de mercadorias mais luxuosas e a autorização para a criação da imprensa nacional, o que fez com que as informações comecem a circular com mais agilidade.

Mas não foi só isso. A corte, com seus hábitos europeus, passaria a demandar produtos e espaços de diversão, criando um mercado antes inexistente, sobretudo no que diz respeito às mulheres. O choque cultural foi mútuo, segundo alguns pesquisadores.

O choque é grande também em relação aos costumes e às maneiras. Comiam-se com as mãos, não se usava talheres, não havia requinte algum na apresentação ou consumo das coisas. A presença da corte imporia também um modelo de civilidade e sofisticação a ser seguido por quem almejasse participar de tão seleto grupo.

Nenhum comentário: